Pesquisa

Sambaqui Camboinhas e Duna Pequena, em Niterói, ganham pesquisa arqueológica

Estudo busca resgatar a memória e levantar vestígios dos povos que ocupavam região da Laguna de Itaipu há 5 mil anos


Um importante estudo arqueológico está sendo realizado em Niterói, na região do subcomitê Lagoas de Itaipu e Piratininga. Trata-se de uma pesquisa de recadastramento e demarcação do Sambaqui Camboinhas e Duna Pequena, localizados na área remanescente de restinga próxima à Laguna de Itaipu, e que integram, junto com a Duna Grande, um amplo território arqueológico. O trabalho, iniciado em novembro de 2022, vai permitir resgatar a memória e levantar vestígios dos habitantes que ocupavam a região há 5 mil anos.

Realizada pelo Museu de Arqueologia de Itaipu (MAI), em parceria com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a pesquisa está sendo conduzida pela arqueóloga Michelle Mayumi Tizuka, coordenadora de campo, e pelo arqueólogo e professor do DArq/UERJ e coordenador do NuPAI/UERJ, Anderson Marques Garcia. O estudo segue a linha de um sítio-escola, com participação de alunos de graduação de arqueologia da instituição.

Autorizada pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e pelo Instituto Estadual do Ambiente (INEA), a pesquisa do Sambaqui Camboinhas e Duna Pequena é a primeira ação de recadastramento no município de Niterói, que até o momento possui 24 sítios arqueológicos cadastrados no IPHAN, muitos dos quais podem ainda conter erros de documentação e localização.

De acordo com a coordenadora Michelle Tizuka, o objetivo da pesquisa é definir o tamanho (extensão e profundidade) dos dois sítios, o grau de preservação e levantar todas as possibilidades de pesquisas futuras no território. “Estamos atuando em uma área de 300 a 500 metros de diâmetros, parcialmente preservada, mas que oferece inúmeras possibilidades de estudos e análises”, destaca Michelle.

As primeiras sondagens realizadas no subsolo revelaram uma camada arqueológica rica em restos de fauna aquática e terrestre, artefatos produzidos com pedras, vértebras e conchas, corantes naturais, estruturas de fogueiras pré-coloniais e aglomerados de conchas. “Encontramos evidências de artefatos em ossos como anzóis, além de artefatos feitos de pedra e manchas escuras que podem ser relacionadas ao cotidiano dos sambaquieiros, como fogueiras, talvez utilizadas para fins ritualísticos”, explica Tizuka.

Levantamentos feitos no final dos anos 1970 e início dos 80, indicam que os sambaquieiros habitaram esse local há pelo menos 5 mil anos e que eram pescadores-coletores. Constatou-se que esses povos também trabalhavam com materiais trazidos de outras regiões, como o quartzo, usados para a confecção de artefatos, e se caracterizavam por utilizar esses recursos de forma sustentável, com produção mínima de resíduos.

Sambaquis

No livro ‘Sambaqui: a arqueologia do litoral brasileiro’, a arqueóloga Madu Gaspar, que também está contribuindo com as pesquisas, explica que sambaqui é uma palavra originária da mistura dos termos Tupi tamba (conchas) e ki (amontoado). Os sambaquis são constituídos por inúmeras camadas de conchas de moluscos, ossadas de animais, sepulturas humanas, restos de fogueira e, por vezes, adornos e esculturas, misturados à areia. Geralmente, estão localizados em áreas próximas ao mar e a braços de mar, rios e florestas, em territórios que oferecem abundância, variedade e disposição de recursos para as populações, que organizavam diferentes sambaquis distribuídos em um mesmo espaço.

Alguns municípios situados na baía de Guanabara, como Rio de Janeiro, Niterói, Duque de Caxias, São Gonçalo e Magé, se desenvolveram em áreas antes ocupadas pelos sambaquieiros. Infelizmente, durante o processo de urbanização dessas cidades, muitos sítios arqueológicos foram destruídos e algumas pequenas porções estão cobertas por calçamentos de ruas e sob construções das cidades.

Rede de coletivos

Michelle Tizuka salienta que essa primeira etapa do estudo é realizada de forma independente, sem nenhum tipo de financiamento. Segundo ela, o recadastramento e a demarcação dos sítios só estão sendo viáveis porque a região conta com uma rede de coletivos e parceiros empenhados na preservação do seu patrimônio histórico, cultural e ambiental.

A partir da mobilização do Fórum de Cultura, Arte em Rede RO, Biblioteca Engenho do Mato (BEM) e Movimento Lagoa para Sempre foi possível reunir voluntários, utensílios e ferramentas para auxiliar nas tarefas de campo. Já a parceria com a NovaTerra Soluções em Geoinformação, permitiu a disponibilização de um alojamento para os alunos do sítio-escola.

A pesquisa conta ainda com o apoio do Parque Estadual da Serra da Tiririca, Amadarcy, Ecoarte Produções, Administração Regional da Região Oceânica, Reserva Extrativista Marinha de Itaipu e Associação de Windsurf de Niterói.

Para uma próxima etapa, a equipe de pesquisadores espera obter apoio financeiro junto ao poder público municipal e em instituições de fomento ao desenvolvimento científico, no intuito de concluir a delimitação dos sítios, realizar as datações e levantar novas evidências arqueológicas do Sambaqui Camboinhas e Duna Pequena. “A continuidade das pesquisas nos sítios pode contribuir para a preservação e conservação do local, resgatar a memória, a identidade local e revelar de fato quem eram essas pessoas que viveram nessas terras há mais de 5 mil anos”, ressalta Tizuka.

Fotos: https://instagram.com/nupaiuerj/




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